Significações e (r)existências de jogadores gays no contexto de jogos digitais : League of Gaymers

Abstract

A cultura de jogos digitais, situada dentro do universo da cultura pop, foi e ainda é constituída a partir de uma lógica machista, racista e cisheteronormativa, privilegiando e reforçando a presença do padrão de jogador homem, branco, cisgênero e heterossexual. No entanto, o agenciamento de outros jogadores, especialmente pessoas LGBTQIA+ e mulheres cisgênero e heterossexuais, provoca fissuras em questões relacionadas a gênero e sexualidade na cultura de jogos digitais. Um dos jogos online mais jogados da atualidade é o League of Legends, conta com uma comunidade brasileira de jogadores LGBTQIA+ bastante atuante nas plataformas de mídias digitais. A partir de reflexões sobre processos desenvolvimentais da perspectiva teórico-metodológica da Rede de Significações, com foco na discussão sobre identidades e masculinidades de jogadores gays – gaymers –, o objetivo desta tese foi perscrutar as significações de ser jogador gay por meio do jogo League of Legends. Para isso, foi realizada uma pesquisa participante e de caráter naturalista com quatro jogadores gays. Os dados foram construídos através de videogravações de sessões de jogo e analisados microgeneticamente para identificação de episódios interacionais. São destacados 28 episódios que evidenciam dinâmicas de interação entre os jogadores gays mediadas por brincadeiras e utilização de memes como uma forma de fortalecimento de afetos e de identidade entre os jogadores, constituindo uma rede de apoio e de resistência contra preconceitos e discriminações, numa nova concepção de enredamento. Observou-se a reprodução de elementos de machismo e transfobia estrutural, frequentemente presentes nas narrativas dos jogos, que corrobora com a manutenção do privilégio masculino na sociedade. Por outro lado, percebeu-se que os jogos digitais apresentam um potencial de catarse para que os gaymers consigam brincar com performances de gênero, permitindo se distanciar do padrão de masculinidade hegemônica e acessar elementos tipicamente associados à feminilidade a partir de um espaço seguro de sociabilidade.